sexta-feira, 4 de julho de 2008

"Como enfermeiras nos filmes de guerra e violinos nas canções de amor"


Puxa vida! Tem um bom tempo que eu não comento a respeito de um disco dos Engenheiros do Hawaii, ainda mais daquele que é um dos meus favoritos - "Filmes de Guerra, Canções de Amor. O álbum foi lançado em 1993 e, entre os fãs, é praticamente uma unanimidade.

O disco é um registro ao vivo sensacional e não pára nisso. É uma gravação semi-acústica bastante diferenciada do formato acústico MTV. A sala Cecília Meireles foi o ambiente escolhido para este show dos Engenheiros - na época Gessinger, Licks e Maltz.

Mas vamos ao que interessa. O disco - que leva o título de uma música do LP "A Revolta dos Dândis", 1987 - mistura o popular ao erudito. Com traços de pop/jazz, blues e bossa nova; guittaras semi-acústicas, percussão e orquestra, o álbum revisa o repertório de toda a engenharia hawaiana.

Gessinger volta às suas origens guitarrísticas, mas não ao Ska do LP "Longe demais das Capitais". O Alemão faz bases de guitarra, toca acordeon em "Pra ser sincero" e piano em "Ando Só", "O exército de um homem só" e "Refrão de um bolero" - a última ficou fora do disco, mas fez parte do VHS e, atualmente, do DVD.

A primeira música faz parte do grupo das inéditas e se chama Mapas do Acaso.




A guitarra de Augusto Licks é primordial nesse álbum. Não que nos outros não fosse, já que muitos afirmam que depois de sua saída a banda perdeu muita qualidade, mas nesse disco ela deu o ar da graça. Com solos precisos e improvisos sensacionais, Augustinho consegue emocionar a todos, como na faixa "Pra entender".

Com uma bateria minimalista, Carlos Matz supreende muita gente. O público que se acostumou com as apresentações cheias de energia e a bateria agrassiva de Maltz, viram o baterista mais contido. Em algumas faixas, ele toca percussão, mas sempre com o mesmo cuidado, a mesma preocupação com os detalhes e com um ótimo resultado.

Pra entender:




Quanto vale a vida é outra música inédita do "Filmes de Guerra" e no clipe da canção a gente vê a banda brincando, Clara Gessinger (ainda bebê) aparece nos braços do pai, Licks tira os óculos (sua marca registrada) e toca gaita.

Uma marca do show são os tapetes e no clipe de "Quanto vale a vida" uma grande peça fica ao fundo dos músicos - não posso dizer se é persa pois não entendo nada disso. A singela faixa fala daquelas coisas da vida que não tem preço, já que pra todas as outras, pelo visto, exite Mastercard.




"Você que tem idéias tão modernas é o mesmo homem que vivia nas cavernas". Com essa provocação, a música "Crônica" ganhou destaque. Neste álbum ela é lapidade e ganha uma sofisticação, talvez, impensada na época do LP "Longe demais...".

O solo de Augustinho, no fim da canção, é sensacional e constrói um final de "perder o fôlego". O clipe é formado de imagens gravadas na turnê da banda no Japão e funciona para ênfatizar a contradição expressa na música. A relação antitética entre o primitivo, o rústico e o moderno, o refinado.




Uma das faixas que mais chama a atenção dos fãs é "Ando Só". A música, originalmente, pertence ao álbum "Várias Variáveis" de 1991 e foi gravada com instrumentos elétricos.

No "Filmes de Guerra", ela surge com Gessinger ao piano e uma orquestra acompanhando. Desta maneira, a bela letra ganhou um mercido destaque, sem falar no "clima" que os violinos e os demais instrumentos eruditos dão.

Em seguida, "O exército de um homem só" ganha um arranjo, também orquestrado. Nesta versão, Gessinger mescla as partes 1 e 2 desta canção do disco "O papa é pop", de 1990.




O exército de um homem só:



Encerro com as seguintes declarações: "O som deste disco está lindo", diz (impressionado) Carlos Freitas, engenheiro de remasterização do álbum. Já Gessinger afirma - "É o melhor disco do Augustinho, é onde ele está mais inteiro".

Infelizmente, esta pérola da música popular brasileira não recebeu a atenção merecida em uma época em que a crítica especializada baseava suas opiniões no grunge de Seatle e se viu, em seguida, órfã ou viúva de Kurt.


Às vezes nunca:




"Tô sempre escrevendo cartas que nunca vou mandar
pra amores secretos, revistas semanais
e deputados federais
às vezes nunca sei
se "AS VEZES" leva crase
às vezes nunca sei
em que ponto acaba a frase (.,;?!...)
você sempre soube (eu não sabia)
toda frase acaba num riso de auto-ironia
você sempre soube (eu não sabia)
toda tarde acaba com melancolia
e, se eu escrevesse "SEM" com "S",
ou escrevesse "CEM" com "C"?
?por acaso faria alguma diferença?
?que diferença faria?
?o que você faria no meu lugar......
se tivesse pr'aonde ir e não tivesse que esperar?
?o que você faria se estivesse no meu lugar......
se tivesse que fugir e não pudesse escapar?
você sempre soube que eu não conseguiria
quando a frase acaba tarde, tudo fica pr'outro dia
você sempre soube, eu não sabia
toda tarde acaba em melancolia
às vezes não entendo minha própria letra
minha própria caneta me trai
às vezes não entendo o que você quer dizer
quando fica calada
você sempre soube (eu não sabia)
quando a frase acaba o mundo silencia
às vezes não entendo onde você quer chegar
quando fica parada
é como ficar esperando
cartas que nunca vão chegar
não vão chegar com "X"
nem vão chegar com "CH"
é como ficar esperando
horas que custam a passar
enquanto ficamos parados,
andando pra lá e pra cá
é como ficar desesperado
de tanto esperar
olhando pela janela
até onde a vista alcançar
é como ficar esperando
cartas que nunca vão chegar
é como ficar relendo velhas cartas
até a vista cansar
você sempre soube
eu não sabia
você sempre soube
eu não sabia"

Maicou...

Nenhum comentário: